sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Tua presença

Em uma noite comum,
Que o dia já anunciava nenhum acontecimento,
E que o sono viria logo para que a dor fosse embora,
Você surgiu, eu despertei.
Já não mais te via e você retornou.
Um beijo e outro beijo,
Carinhos, olhar profundo.
Senti seu toque suave,
E a perfeição como nos encaixamos.
Não falamos nada pessoal,
Apesar de nos conhecermos bem,
E entre risos e seu jeito engraçado,
As horas passaram e não pude parar o tempo.
Queria ele congelado sempre nesta noite,
Não apenas de prazer,
Mas de um carinho imensurável.
Nessa noite, você anjo que já conhecia,
Mostrou que não perdemos o que chamam de química,
Nem sequer as pequenas coisas,
Que fazem rir e irritam.
Pude te irritar,
Te fazer sorrir,
Fazer você se abrir,
Ultrapassar a muralha,
Para descobrir a perda que tive.
A perda que hoje sufoca,
Mas tua presença alivia.
A tua presença que sempre ergueu,
Que provocou, mas foi amável,
E entre tantas diferenças,
Paixão à flor da pele,
Mesmo com o passar dos anos,
Serei chato assim como você é chata,
Mas de uma forma gostosa de viver,
Pois a leveza que encontro em seus olhos,
É minha fonte de energia,
Que eleva,
Que me faz acreditar.
Nas nossas loucuras,
Em sonhos pequenos,
Em carinhos doces,
Em beijos quentes,
Em noites de abraço,
Em dias de solidão,
Apenas lembro-me de um tempo que passou,
Lembro de uma noite,
Que vi a vida de volta,
Parecendo perfeita,
Até o dia amanhecer.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Loucura moderna no final de ano


                Nada tão pouco original do que chegar ao tão esperado final de ano e falar do dito cujo. Mas como o natal está próximo podemos falar não necessariamente das compras ou presentes ou do peru da ceia. Algo interessante chama nossa atenção nesses dias.
            Diferente que na terra de Papai Noel, em nosso país o calor nessa época torna-se insuportável.  Além de ser o assunto do momento torna-se a razão do mau humor de uma quantidade expressiva de pessoas. Essas alterações podem ser um olhar feio com a testa franzida ou xingamentos e discussões. Fica a gosto do alterado.
            Passamos o ano todo correndo, ocupadíssimos e quando ele termina estamos mais ocupados ainda. Não há como sair na rua tamanho movimento. E me pergunto de onde saiu tanta gente que antes nunca tinha visto. Mas por um lado nada como pegar uma rua ou mesmo o calçadão e sair somente para observar. Encontrar um banco para ficar sentado e analisando as peculiaridades.
            O que torna a missão difícil são os desvios que fazemos para não esbarrarmos em ninguém, vai que é uma daquelas criaturas alteradas. As probabilidades são enormes. Mas se não fosse para correr o risco, que fique em casa. Tantos desvios se tornam um excelente exercício, junto é claro com o ritmo que acompanhamos das pessoas. Depende, às vezes temos senhoras com sacolas enormes que eu mesmo caberia numa delas, com tantos presentes, não tem como ir tão rápido.
            O fato é que todos querem comprar e ir para casa, estar com a família, esticar as pernas, tomar muita água e não perder a novela. De tudo que pode acontecer nesse martírio, nesse final de ano que mais parece o final de tudo, do mundo, é que algumas pessoas sorriem, mesmo que o suor e o grude impregnado na roupa e na pele alcance você num forte abraço, são pessoas de bem com a vida.
            Correm, brincam com as situações de estresse, se divertem, aproveitam o congestionamento tomar um sorvete. Não importa o calor, nem o alterado, nem mesmo a correria, o que importa é que num momento desses, se não temos sequer um ventilador, nem água, e temos que esperar certo tempo, o que vale é lembrar que sempre pode ser pior. Assim como esse texto, já não estava gostando e vi que posso piorar, então encerro com um belo, ho ho ho.

Um ótimo natal e ano novo a todos! Obrigado por acompanharem o blog. Felicidades!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Algo da vida

O que foi sonhado numa vida,
Desmanchou-se com o ar.
Do que foram sonhos e carinhos,
Fumaça se tornou.
Nem compreensão,
Nem sequer afeto,
Somente um desejo para saciar.
Novos velhos amores,
Outros caminhos,
Que se cruzam com o nosso.
Se foi prazer,
Prazer em conhecê-la,
O abandono inesquecível.
Das promessas quebradas,
Errei ao dizer que era minha.
Não possuo, não tenho posses,
E do esquecimento vivo,
Num labirinto de dúvidas.
Se o amor foi sincero,
Se o erro foi somente meu,
Não diga nada nesta noite fria,
Apenas procuro abrigo,
Para o vazio que ficou.

Escrito em silêncio

Este texto é uma homenagem à grande amiga Solange que em função de questões pessoais encerrou seu blog. Os versos que apesar de escritos por alguém ficam sujeitos e pertencem à interpretação do leitor, porém o mesmo não são as razões nem mesmo o sentimento que vive hoje Solange. Talvez uma pequena parte, mas afinal quem não vive momentos assim. Enfim queria dedicá-lo à pessoa que sempre nos encantou com seus pensamentos. Obrigado Sol pelas postagens que hoje fazem falta para muitos.


Em silêncio escrevo o que não poderia dizer,
Em silêncio imagino um mundo diferente,
Em silêncio tenho sonhos que são como segredos,
Revelados nas entrelinhas,
Desvendados por poucos.
Em silêncio grito,
Peço ajuda,
Elogio o que é belo.
Em silêncio contemplo o magnífico,
Mas sinto o mal da solidão.
Em silêncio não calo meu coração,
Nem sequer meus sentidos,
Pois o que tenho comigo,
É mais uma forma de expressão.
Em silêncio me entrego,
Como nunca havia feito.
Toda angústia ou alegria,
Habitam meu silêncio,
E assim em conversas e elogios,
Mantenho-me em silêncio,
Com certa tristeza, mas não o fim,
Com a despedida que voltará.
Como todo amor que vai e volta,
Como um jogo do destino,
Meu silêncio se ouvirá,
Como um grito dizendo,
Aprendi a amar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Meu chefe é um chato!

              Quantas vezes ouvimos ou fizemos reclamações de nossos chefes, seja com os colegas ou então com a família. Sentados num bar tomando aquela cerveja bem gelada depois do expediente e reclamando da estupidez e ignorância do fulano.
            O interessante é que hoje temos uma divisão que não sei se é de senso comum, mas poderíamos dizer que nem sempre paramos para reclamar do nosso chefe. Há no mundo criaturas raras que são capazes de ter uma excelente relação com seus funcionários. Preserve estes, mentes abertas, que sabem lidar com respeito sem se impor pelo medo.
            Se tiveres um chefe assim, certamente ele estará tomando a cerveja gelada junto com todos, até porque ninguém sairá correndo do trabalho. Pois existe um padrão curioso de funcionário insatisfeito e desgostoso com o chefe, ele chega se arrastando ao entrar na empresa como se uma força de outro mundo o puxasse para fora. E quando chega a hora de ir embora, desaparece de forma tão rápida que desafia as leis da física.
            Essa briga é antiga e remete aos antigos exploradores de um tempo passado que não serve mais aos dias atuais. Empresas onde o funcionário ganha uma soneca após o almoço ou permite um pequeno intervalo para espairecer são as que crescem. As demais vão à falência ou ficam estagnadas no perigo de fechar as portas.
            Há quem ofereça um tempo para jogar videogame ou andar de skate com pista dentro do escritório. Outras oferecem um ambiente semelhante ao de universidade onde se pode andar de bicicleta e o funcionário deve dedicar 20% do seu tempo a idéias e projetos próprios, rentável para ambos.
            O mundo capitalista com sua crueldade hoje favorece empresas com funcionários satisfeitos. Não precisa ser uma grande empresa, pode ser de pequeno ou médio porte.
            Enfim, um chefe chato tomará sua cerveja sozinho e por mais que esteja gelada, sua orelha estará em chamas. Então se você é subordinado de alguém com visão, mente aberta, que saiba lidar com as diferenças sem abusar do poder, pense duas vezes antes de pedir as contas, pois o próximo pode ser um carrasco. E você carrasco, pense que na verdade não soube pensar até hoje, então a partir de amanhã aprenda a pensar e a cerveja terá um gosto de bons amigos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pequenos versos

Numa noite escura,
Nada de prazer,
Num dia entediante,
Nada para beber.
A tensão aumenta na cidade,
Grande ou pequena.
Sonhos morrem em cada adormecer.
Nem tudo é o que parece ser.
Parecidos somos nós,
Vagando por caminhos,
Desejando bons destinos.
Chega a madrugada, embriaga,
De prazer.
Não há lugar que leve à solução.
A dúvida e a verdade,
Duas sombras ao amanhecer.
Carros e pessoas, nada a dizer,
O mundo gira fora de controle,
Controle de emoções,
Paixões no anoitecer.
Perigos que traduzem,
Uma vida criminosa,
Sem crime para cometer.
Se os versos fossem palavras roubadas,
Te daria o amor,
Em pequenos versos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Deusa

Me perturba quando você invade meus pensamentos,
Sem pedir licença me consome.
Traz a malícia implícita,
Parecendo carente,
Mas me tortura com um olhar febril,
Um toque juvenil,
Um beijo indecente.
Me perturba,
Que em suas palavras,
Você joga entre o bem e o mal.
Me incomoda,
Pois mesmo suas maldades,
Me deixam entregue,
Às suas vontades e caprichos.
Sem reação para defesa,
Chega e toma o que quer.
Provoca com falsa inocência,
Me envolve com uma simples aparição.
Com raiva, paixão, fogo, sedução,
Esmaga meu peito,
Destrói sentimentos,
E me devolve,
Mas nesse momento,
Não sei mais quem sou.
Não existe distância,
Nem sequer obstáculo,
Que não consiga alcançar.
Não existe resistência minha,
Que não saiba derrotar.
Como se tivesse poderes,
Me afeta, me encanta.
Uma espécie de deusa,
Que de mim,
Faz o que o humor decide.
Se me quer por uma noite,
Não consigo recusar,
Te abraçar e dormir ao seu lado.
Se quer me levar à loucura,
Me seduz, e me perco no teu prazer.
Se quer maltratar o coração,
Apenas diz que me odeia.
Na tentativa de escapar,
Ouço teus sussurros,
Que me chamam docemente,
E novamente estou aos seus pés.
Do perfume não esqueço,
Da pele macia como seda,
Procuro não pensar.
Dos teus encantos,
Nunca escapei,
Pois o desejo é tão forte,
Quanto nosso sentimento puro.
Na luta em dizer não,
Digo sim sem hesitar,
Me controlo,
Mas você conhece como,
Passar dos meus limites.
Sabe que basta um toque,
Um pedido ou ordem,
E lá estarei,
Admirado, hipnotizado,
Somente servindo às tuas vontades,
Ou saciando teus desejos,
Pois essa entrega plena,
É um amor imortal e eterno.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Perda

Não queira me ver amanhã de rosto erguido,
Nem com um sorriso no rosto.
Não tente arrancar um sorriso,
Pois só sairão lágrimas neste dia.
Que o dia permaneça nublado,
Obscuro, para que eu possa me esconder na multidão.
Se viu o brilho no meu olhar,
Se viu meu jeito louco de amar.
Somente esqueça,
Das promessas, dos planos.
Se estiver pra baixo,
Não tente me erguer,
Não quero um abraço forte.
Apenas quero ficar sozinho,
Deitado com meus pensamentos,
Imaginando, o que poderia ser e que não foi.
Foi a distância ou o medo.
Foi algo que fez uma paixão se tornar ferida,
E somente olhe, mas não diga nada,
São apenas lágrimas que cairão pela última vez.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Devaneio

Por essa estrada estranha que traço meu caminho,
Nada é novidade, acho que já passei por aqui.
Se já perdi a cabeça foi sem querer,
Se não abri a janela num dia de Sol,
E corri na chuva procurando uma razão,
Só queria me molhar enquanto todos se escondiam.
Só tentei entender os motivos que criam os fatos.
Acordei já era noite, acendi um cigarro,
Olhei para o vazio,
E ali encontrei uma solução,
Para não sentir mais dor.
Era apenas uma alucinação,
Um delírio constante,
Pedindo socorro,
Em silêncio,
E não havia nada mais a ser dito.

Destrutivo

É difícil viver contido,
Como se estivesse escondido.
Fazendo o que é mais adequado,
Mais banal.
E as vezes um sonho estranho surge,
o de estar numa aventura,
Perseguições, desafios grandes.
E estar aqui numa vida tranquila e sem emoções
É uma escolha de muitos
É o desejo de todos, paz.
Quero poder me embebedar num bar, conhecer alguém,
Que ela tenha um jeito diferente de sofrer,
Que nossas ações sejam reprováveis,
Que nosso desejo só aumente,
Que as confusões façam doer a cabeça.
vivendo no limite dos princípios.
Contato profundo,
Loucamente insano, profano, destrutivo.
Assim vejo meu maior romance,
Um labirinto sem saída,
Um caminho inesperado.
Não basta ter tudo, é preciso estar vivo,
E o vento bater no rosto como se fossem lâminas,
E o beijo parecer venenoso,
O sexo uma sentença de morte.
Assim desejo uma aventura,
Sem limites,
Apenas o inesperado,
Simplesmente livre.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Apenas o fim


Vivemos momentos sublimes,
De uma paixão enlouquecedora.
Um amor imensurável,
Sonhamos, fizemos planos.
Um dia o sólido desmoronou.
O que era eterno durou um segundo,
O que era pra toda vida não existiu.
Hoje vivemos as lágrimas,
De um sonho perdido.
Lamentamos o que nunca aconteceu.
Apenas lembranças de uma vida,
Um projeto que não teve fim.
A vida pregou uma peça,
Foi irônica,
Foi sarcástica,
E partiu nossos corações.
A maior das ofensas,
Um pecado irreparável,
O que não voltaria a ser.
Foi com um abraço bom,
Um beijo meio amargo,
Lágrimas e tristeza,
Que falamos adeus.
O que poderia ter sido,
Já não existe mais,
Daqui por diante,
È o resto de nossas vidas,
Pois esse é,
Apenas o fim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desconhecido


Desconhecido, a chama que aguça os sentidos,
Causa medo,
Nos faz perder a paz.
Inquietos sentimos a dúvida,
Questionamos o que parecia concreto,
Sonhamos o que parecia impossível,
Sentimos o frio do nada saber.
Mergulhar num mundo estranho,
Sem segurança da volta,
Na tentativa do se conhecer,
Conhecemos uma parte da loucura,
Desejamos com receio que retorne,
Uma aventura, uma inconseqüência.
Nada que possa ser dito,
As opiniões podem mudar,
As certezas podem desabar,
Nada como entrar incerto,
Para sair sem medo,
Do escuro da noite de solidão.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Uma noite


Sempre quis roubar lindos versos e te entregar como se fossem rosas,
Fazer promessas que fossem como sonhos de um conjunto de dois.
Temi a vida quando ela se mostrou como realidade,
Tive medo do escuro porque o desconhecia.
Não tive a coragem de roubar, nem fui capaz de sonhar.
O que temia hoje tem medo de mim,
O que deveria descobrir, apenas fechei os olhos e não quis mais ver.
Queria ter visto beleza, acabei num beco escuro cheio de tristeza.
E da preguiça inventei mil desculpas, sem nexo, sem sentido,
Mas já não sentia nada além de uma culpa imensa.
Não sei se foi a bebida, se foi aquele beijo roubado, se foi aquele segredo,
Talvez tenha sido a culpa do que não fiz.
Talvez tenham dito que era crime e senti a culpa,
E se questionei, não tive forças para enfrentar um dogma.
Se enfrentei, cansei de lutar contra a ignorância.
E de tantas promessas, delas queimei junto com papéis de poesia medíocre.
Percebi que da poesia não havia nada de medíocre, essa morava nas pessoas,
As mesmas com quem tomamos um vinho caro jantamos por oportunidade,
Apenas passaram por nossas vidas, sem deixar nenhuma marca, nenhuma cicatriz.
Nada mais me interessa, nem teorias brilhantes, nem novas idéias,
Longe do mundo real encontro o conforto que amigos compartilham,
Como lobos solitários, sem companhia para esta noite.
Não veremos orquestras, nem boa história,
Somente uma menina chorando num quarto vazio,
Uma mãe solteira, sozinha, tomando comprimidos,
Um mendigo dormindo num lugar sujo e escuro,
Um sábio preso em grades de manicômio,
Um idiota manipulando as mentes que não sabem pensar,
Era mais um óbito suicida em qualquer capela.
Nesta noite estava acordado, não dormi, não tinha sono,
Não vi nada, não senti nada, apenas um frio estranho,
Suando frio de dor, cigarro na mão, bebida no copo,
Era apenas mais uma noite de insônia, paranóia,
Que te perseguem, que incomodam, que assusta e mantêm os olhos abertos.
A cada cigarro, a cidade pega fogo, numa noite comum,
Como o que dizemos no dia a dia.
Sem lamentos, acaba a noite e o Sol traz mais um dia de muito trânsito e correria,
Sem ninguém querer sair da cama, todos correm, sem ter aonde chegar.
Não importa, alguém nasce e morre e mata,
Assassinos de informação, de interlocução.
Tudo continua, bombas explodem, a vida segue,
Gritos de socorro ninguém ouve,
Tudo continua, amanhã será um novo dia.

Socorro...


O medo bate a porta,
Assombra as noites vazias.
O escuro é uma descoberta,
Em toda noite sonho com ela,
Vindo devagar sem motivos,
Apenas se entregar.
Não era minha janela vazia,
Onde alguém desistiu de viver,
Onde morava a tristeza.
Ali vivia a morte todo dia,
Alimentando-se de pensamentos vagos.
Todo mundo só,
Numa cidade fria,
É verão, mas ninguém te ouve,
O calor é grande,
Mas ninguém se interessa por você.
Amigos mortos num museu de cera,
Filhos enterrados por mentiras verdadeiras.
Havia razão além da razão,
Mas a mãe não se importava,
Ele vivia sozinho,
E assim morreu,
Pedindo socorro.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Folha em branco


Folha em branco,
Pensamento no vazio,
Coração louco,
Confuso nos versos.
Era pura inocência,
Não havia coerência,
Era uma paixão,
Arrebatadora.
Um vulcão sempre aceso,
Misturou-se com o amor,
Assim se fez o Nós.
Era uma folha em branco,
Pronta para receber uma história,
A mais apaixonante,
A mais enlouquecedora.
O amor construiu,
Sonhou todos os sonhos,
Imaginou um futuro romântico.
Dias negros borraram a folha,
Mesmo assim,
O amor se manteve vivo,
Hoje guardado,
Com medo e insegurança.
O que foi belo,
Não iria morrer,
Apenas sua confusão impede,
Que voltemos,
A amar intensamente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eclipse

                 As relações humanas. Como tentar entendê-las? Em alguns momentos podemos estar sorrindo num bar com amigos, em outros sentindo um sofrimento imensurável numa cama de hospital. Mas sempre temos pessoas ao nosso lado capazes de nos fazer sorrir no dia seguinte.
            Por mais que hoje espere por sua visita, por mais que na segunda vez que perguntei a ela, houve uma pequena pausa, como se estivesse pensando numa maneira de realmente aparecer outra vez para nos encontrarmos. Mas não há hoje a menor possibilidade. Eu preso de um lado, ela de outro, numa prisão que apenas nos impede por compromissos e esperas. Talvez fosse mais fácil suportar se fosse por prisão com grades, sem uma chance sequer. Certamente seria suportável para ambos.
            Mas não há o que lamentar a noite em que estivemos poucas horas juntos. Um reencontro com mistura de raiva da parte dela e saudade da minha. Porém mesmo assim, o sentir, essa necessidade humana que nos conforta, veio mais forte de tal maneira que não havia outra saída, precisávamos do toque, do beijo, do cheiro, para que de repente tudo se acalmasse e risos pudessem tomar conta deste quarto de hospital.
            Dizer que foi extraordinário, que parecia um sonho já vivido e que voltara a se repetir, sempre imaginamos um pouco mais, um minuto, um segundo, um instante que deveria durar uma eternidade e que passa voando.
            Um moribundo por mais que deteste a vida, pediria um minuto a mais de vida. As crianças choram como se necessitassem como um vício de mais um pouquinho no balanço da pracinha. Ontem fomos moribundos e crianças, queríamos o minuto e o pouquinho.
            É apenas mais um dia. De lembranças e suspiros saudosos, que possam ir se apagando aos poucos. Passa hoje um dia torturante, amanhã um menos doloroso, mas não menos cruel, e de repente volta à realidade tal como sempre foi. A gente novamente longe.
            Então milhões de pensamentos vêem à cabeça junto com lembranças e músicas que marcaram momentos em todos sentidos. E nesta manhã de sábado somente pairam no ar as dúvidas de um recomeço. Talvez tenha sido um momento. Não sei onde os pensamentos se perderam a ponto de não haver muitas escolhas.
            Estar em casa, estar sozinho, com ela, em outros lugares e simplesmente acordar num quarto de hospital. Como se o tempo tivesse passado tão depressa e a cada momento as opções vão diminuindo, a ponto de não se ter onde chegar.
            Impossível definir se pode ser espiritual, mas o fato é que as pessoas estão lá fora, com suas banalidades, e de repente aquele momento foi vivido por outras pessoas ao redor do mundo, mas não com tamanha intensidade e nem sequer perto da beleza. Aquele anjo chegando devagar, sentada longe na cadeira. Nos olhamos por bom tempo como dois estranhos e de repente aos poucos o que havia de sublime foi acontecendo.
            E assim pude lembrar de uma história contada que me serve de consolo nos dias de hoje apesar da saúde debilitada, resolvi pensar no amor e lembrei que antigamente o Sol e a Lua eram grandes amantes, antes do mundo existir. Viviam um romance tão intenso e belo. Porém Deus criou o mundo e teve que separá-los, pois o Sol tornaria os dias iluminados e a Lua as noites mais belas. Mesmo que o Sol tentasse consolar a Lua, falando da beleza das estrelas, Ela já não tinha brilho, nem forças para suportar esta separação.
            Foi então que Deus criou o eclipse, que acontece raramente, mas a Lua voltou a brilhar mais forte e o Sol se tornou mais alegre, porque em um período de anos eles podem se encontrar novamente e é nesse instante que eles matam sua saudade com um amor tão intenso que nem mesmo nós humanos podemos olhar diretamente para o eclipse, tamanha intensidade desse reencontro.
            Assim vi naquela mulher, nosso momento antes da criação do mundo e agora onde sempre fico à espera de um novo eclipse como aquele, pois sempre no reencontro parece que este amor se torna mais intenso. Mas o mundo precisa do Sol e da Lua depois desse intenso momento, e voltamos a estar distantes até que o próximo eclipse aconteça.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Rodoviária


              Há lugares interessantes para conhecermos. Seja no nosso país, seja no exterior, as belezas do mundo são incontáveis. Falemos aqui não somente de pontos turísticos, aliás, o interessante está no que não é mostrado ou divulgado para nós. O contato com as pessoas que habitam determinada região, as festas, os bares, os cafés e livrarias que não nos apresentam.
            O caminho até nosso destino de belezas que nos interessam passa por um lugar peculiar, a rodoviária. Ou melhor, as rodoviárias, pois as diferenças são enormes e me sinto cada vez mais confortável esperando o ônibus.
            Algumas agitadas, de movimento intenso, com diversos tipos de gente, desde os discretos até os escandalosos. As de movimento pequeno já não temos uma variedade de espécies, mas despertam o interesse pela tranqüilidade. Porém teremos alguns padrões no comportamento que são de praxe.
            Há os que não suportam esperar, andam de um lado para outro, sobem e descem escadas. Os que precisam urinar várias vezes antes de entrar no ônibus, mesmo que mesmo tenha banheiro. Vão e voltam, duas, três vezes em cinco minutos. Lembrando novamente que o mesmo pode ser feito durante a viagem. Digo nem tudo, pode ser que o cheiro acabe entregando a gente entre os passageiros. Agora me pergunto por que hoje são tão capitalistas a ponto de cobrar uma urinada. É tão rápido e não faz sentido. Imagina para as espécies que vou descrever agora, os que tomam cerveja. Após o efeito paga-se umas três cervejas só de banheiro.
            Os que preferem tomar cerveja ou derivados do álcool aproveitam as viagens longas para dormir. Se for um destes sente no corredor, irá muitas vezes ao banheiro. E pior, se escolher janela, o companheiro do lado pode estar dormindo e aí fica entre acordá-lo ou segurar até que a criatura acorde como um ato de misericórdia.
            Quem tem medo de perder o ônibus, chega cedo, procura um lugar para sentar e ali fica olhando para o nada ou bem acompanhado com seu livro. Mas fuja caso seja um desses livros de auto-ajuda, certamente essa pessoa falará sobre ele e ainda corre o risco de que leia para você alguns trechos.
            Apressados. Ou vivem correndo, pelo trabalho, ou dormem além da conta e chegam em cima da hora. São os mais estressados, quando entram no ônibus, reclamam da velocidade do motorista, do atraso de dois minutos e são capazes de matar pela poltrona. Tome cuidado, tendências de psicopata podem se manifestar.
            A turma do celular sente a necessidade de fazer com que todos ouçam sua conversa, mesmo que já não mais liguemos para isso. Uma tecnologia tão comum e ao alcance de todos, já não causa tanto alarde. Desde que não seja um gaúcho da fronteira que fala tão alto que é possível ouví-lo do outro lado de uma rodoviária imensa.
            Como o rumo do texto mais parece um manual de instruções sobre rodoviárias e embarques, não poderia deixar de falar, é bastante sério, faça amizades que tenham um ônibus direto ao destino se não gosta de ficar observando em rodoviárias. Porque você sairá do seu município, irá até o mais próximo de onde a pessoa mora e ainda terá que pegar um outro ônibus para chegar ao destino. Isso certamente levará um dia inteiro contado que você sai da sua cidade de origem, vai descer numa intermediária e lá terá que esperar até o próximo ônibus onde realmente pretende chegar. Aí são mais algumas horas de viagem e cansa.
            Talvez o hábito de observar e saber esperar venha desse fato. Não há opção, a não ser esperar. Apesar de ser torturante no início, com o tempo vamos aprendendo a esperar e nesse tempo conhecemos diversos tipos de pessoas, diferentes humores, personalidades, e no final você passará a freqüentar a rodoviária da própria cidade porque se tornou um viciado em observar as pessoas.
            Um excelente estudo de campo sociológico, um hobby para os desocupados, uma terapia para os desanimados, um vício para quem somente quer conhecer um pouco mais da fauna urbana.