sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Rodoviária


              Há lugares interessantes para conhecermos. Seja no nosso país, seja no exterior, as belezas do mundo são incontáveis. Falemos aqui não somente de pontos turísticos, aliás, o interessante está no que não é mostrado ou divulgado para nós. O contato com as pessoas que habitam determinada região, as festas, os bares, os cafés e livrarias que não nos apresentam.
            O caminho até nosso destino de belezas que nos interessam passa por um lugar peculiar, a rodoviária. Ou melhor, as rodoviárias, pois as diferenças são enormes e me sinto cada vez mais confortável esperando o ônibus.
            Algumas agitadas, de movimento intenso, com diversos tipos de gente, desde os discretos até os escandalosos. As de movimento pequeno já não temos uma variedade de espécies, mas despertam o interesse pela tranqüilidade. Porém teremos alguns padrões no comportamento que são de praxe.
            Há os que não suportam esperar, andam de um lado para outro, sobem e descem escadas. Os que precisam urinar várias vezes antes de entrar no ônibus, mesmo que mesmo tenha banheiro. Vão e voltam, duas, três vezes em cinco minutos. Lembrando novamente que o mesmo pode ser feito durante a viagem. Digo nem tudo, pode ser que o cheiro acabe entregando a gente entre os passageiros. Agora me pergunto por que hoje são tão capitalistas a ponto de cobrar uma urinada. É tão rápido e não faz sentido. Imagina para as espécies que vou descrever agora, os que tomam cerveja. Após o efeito paga-se umas três cervejas só de banheiro.
            Os que preferem tomar cerveja ou derivados do álcool aproveitam as viagens longas para dormir. Se for um destes sente no corredor, irá muitas vezes ao banheiro. E pior, se escolher janela, o companheiro do lado pode estar dormindo e aí fica entre acordá-lo ou segurar até que a criatura acorde como um ato de misericórdia.
            Quem tem medo de perder o ônibus, chega cedo, procura um lugar para sentar e ali fica olhando para o nada ou bem acompanhado com seu livro. Mas fuja caso seja um desses livros de auto-ajuda, certamente essa pessoa falará sobre ele e ainda corre o risco de que leia para você alguns trechos.
            Apressados. Ou vivem correndo, pelo trabalho, ou dormem além da conta e chegam em cima da hora. São os mais estressados, quando entram no ônibus, reclamam da velocidade do motorista, do atraso de dois minutos e são capazes de matar pela poltrona. Tome cuidado, tendências de psicopata podem se manifestar.
            A turma do celular sente a necessidade de fazer com que todos ouçam sua conversa, mesmo que já não mais liguemos para isso. Uma tecnologia tão comum e ao alcance de todos, já não causa tanto alarde. Desde que não seja um gaúcho da fronteira que fala tão alto que é possível ouví-lo do outro lado de uma rodoviária imensa.
            Como o rumo do texto mais parece um manual de instruções sobre rodoviárias e embarques, não poderia deixar de falar, é bastante sério, faça amizades que tenham um ônibus direto ao destino se não gosta de ficar observando em rodoviárias. Porque você sairá do seu município, irá até o mais próximo de onde a pessoa mora e ainda terá que pegar um outro ônibus para chegar ao destino. Isso certamente levará um dia inteiro contado que você sai da sua cidade de origem, vai descer numa intermediária e lá terá que esperar até o próximo ônibus onde realmente pretende chegar. Aí são mais algumas horas de viagem e cansa.
            Talvez o hábito de observar e saber esperar venha desse fato. Não há opção, a não ser esperar. Apesar de ser torturante no início, com o tempo vamos aprendendo a esperar e nesse tempo conhecemos diversos tipos de pessoas, diferentes humores, personalidades, e no final você passará a freqüentar a rodoviária da própria cidade porque se tornou um viciado em observar as pessoas.
            Um excelente estudo de campo sociológico, um hobby para os desocupados, uma terapia para os desanimados, um vício para quem somente quer conhecer um pouco mais da fauna urbana.

Um comentário:

  1. Carlos,tbem aprecio conhecer outros lugares....e nas rodoviarias da vida encontramos muitas vezes pessoas com culturas diferentes que acabam nos chamando atenção.....não devemos perder tempo....devemos iniciar uma conversa e tentar conhecer-los e fazer muitas amizades....e sei que vc sabe bem fazer isso...és uma pessoa muito querida...
    Beijos..Sol

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